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Guia BPC/LOAS: o Direito que pode transformar sua vida

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Resumo: Entenda quem tem direito ao BPC/LOAS e como solicitar o benefício.


Maria acorda às 5h da manhã. Enquanto prepara o café, seus olhos percorrem a pilha de contas sobre a mesa. São R$800 em terapias particulares para seu filho João, de 7 anos, que tem autismo severo. O SUS não oferece tudo que ele precisa. O aluguel vence em uma semana. Ela olha para o filho, ainda dormindo, e sente um nó na garganta. "Como vou dar conta de tudo isso?"


Esta cena se repete em milhares de lares brasileiros. O que Maria não sabe é que existe um direito que pode aliviar significativamente esse fardo: o Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS).


Este guia não é apenas uma lista de requisitos burocráticos. É um mapa para famílias reais, com dificuldades reais, encontrarem o caminho até um benefício que pode significar a diferença entre a dignidade e a desesperança.


BPC/LOAS: um passaporte para a dignidade


O BPC/LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social - Lei nº 8.742/1991) não é esmola, nem favor. É a materialização de um princípio constitucional: nenhuma família brasileira deve ser abandonada à própria sorte quando enfrenta situações de vulnerabilidade.


O que poucos explicam:


· É um salário-mínimo mensal pago diretamente à pessoa com deficiência ou idoso.

· Não precisa de contribuição prévia ao INSS.

· Não é herança, pois o benefício cessa com o falecimento do beneficiário.

· É intransferível - pago exclusivamente para quem tem o direito.


Para famílias como a de Maria, esse valor pode representar um verdadeiro alívio no orçamento mensal. É a diferença necessária para o pagamento de terapias que o SUS não oferece, para comprar medicamentos e/ou oferecer uma alimentação adequada para os seus.


Entenda os requisitos para acessar o benefício


Muitas famílias se confundem com os requisitos. Por isso, preparamos um tópico descomplicando esta questão. Acompanhe.


Pilar 1: a deficiência que realmente impacta a vida.


Aqui está um dos maiores equívocos. Não basta ter um diagnóstico. O INSS avalia se a deficiência:


· É de longo prazo (dura mais de 2 anos).

· Impede a participação plena na sociedade.

· Dificulta atividades básicas como estudar, trabalhar, cuidar de si mesmo.


Exemplo prático: duas crianças com autismo podem ter situações completamente diferentes. Uma pode ter autismo nível 1 (antiga síndrome de Asperger) e conseguir frequentar escola regular com pouco apoio. Outra pode ter autismo nível 3, ser não-verbal, precisar de cuidados 24 horas. Ambas têm TEA, mas o impacto na vida é distinto.


O mesmo se aplica a pessoas com deficiências motoras. No contexto de um mesmo tipo de diagnóstico, podem haver graus diferentes de inabilitação para o trabalho, por exemplo, o que impacta a avaliação dos peritos médicos.


Pilar 2: renda familiar como definição de vulnerabilidade


O benefício é destinado para famílias com renda familiar per capta de ¼ de salário mínimo mensal. Vamos aprender a fazer este cálculo?


Passo a passo para calcular:


1. Some a renda de TODOS que moram na mesma casa (salários, aluguéis, aposentadorias, bicos).

2. Divida pelo número de pessoas.

3. Compare com 1/4 do salário-mínimo atual.


Cenário real:


· Família Silva: pai (renda informal R$ 600,00), mãe (desempregada), filho com paralisia cerebral, avó (aposentada R$ 1.518,00).

· Total da renda: R$ 2.118,00.

· Número de pessoas: 4.

· Renda per capita: R$2.200 ÷ 4 = R$529,50.

· ¼ do salário-mínimo (2024): R$ 379,50Resultado: Não se enquadra no requisito de renda.


Pilar 3: a situação de vulnerabilidade real.


Este pilar é subjetivo, mas crucial. O assistente social do INSS avalia:


· Condições de moradia.

· Acesso a serviços básicos.

· Gastos extraordinários com saúde.

· Situação geral da família.


Lembre-se: é fundamental cumprir os requisitos nos três pilares de forma cumulativa. Isto é, não basta se enquadrar no perfil socioeconômico ou somente na situação de vulnerabilidade real.


Saiba como requisitar o benefício


Fase 1: Preparação

Confira abaixo a lista de documentos essenciais para a requisição do BPC/LOAS.


· Laudos médicos detalhados.

· Relatórios de terapeutas (fono, TO, psicólogo).

· Comprovantes de renda de todos os moradores.

· Contas de luz/água dos últimos 3 meses.

· RG, CPF, certidão de nascimento.


Dica extra PCD Hub: faça um diário com fotos e vídeos mostrando as dificuldades do dia a dia da pessoa portadora de deficiência.


Fase 2: o agendamento de perícia médica (persistência é a chave do sucesso).


· Ligue 135 ou use o app Meu INSS.

· Escolha a opção "Agendamento - Benefício Assistencial ao Idoso e à Pessoa com Deficiência (BPC-LOAS)".


Dica extra PCD Hub: tente ligar em horários alternativos (início da manhã ou final da tarde).


Fase 3: a perícia (a hora da verdade).


O que levar:


· Todas as documentações originais e cópias.

· A pessoa com deficiência (se possível).

· Todas as medicações em uso.

·  Relatórios escolares (se houver).


Dica extra PCD Hub: saiba como se comportar.


· Seja sincero e detalhista.

· Conte a história real, sem exageros.

· Mostre como a deficiência impacta a vida familiar.


Fase 4: a análise social


Cumprida todas as etapas anteriores, ainda teremos a avaliação de um assistente social. Serão levados em conta os seguintes aspectos já listados.


· Condições reais de vida.

· Estrutura familiar.

· Necessidades específicas.


Dica extra PCD Hub: este profissional tem poder decisório importante!

Conheça as principais armadilhas do processo e como evitá-las


Erro 1: documentação Insuficiente

· Laudos genéricos sem descrição funcional.

· Falta de comprovação de renda de todos os moradores.

· Documentos desatualizados.


Erro 2: não levar a pessoa com deficiência.

· O não comparecimento pode ser motivo de indeferimento.

· O perito precisa ver a realidade.


Erro 3: informações inconsistentes

· Renda declarada diferente da realidade.

· Endereços divergentes nos documentos.

· Situação familiar não condizente com a realidade.


Perguntas que não querem calar: conheça a resposta para dúvidas comuns


"Meu filho tem autismo leve. Tem chance?"Sim, se você conseguir comprovar o impacto real na vida dele. Dificuldade de socialização, crises, necessidade de acompanhamento constante - tudo isso conta.


"Moro com meus pais aposentados. Isso prejudica?"Depende. A renda deles entra no cálculo. Mas se os gastos com saúde forem altos, isso pode ser considerado.

"Trabalho informal. Como comprovar minha renda?"Declaração própria, declaração de quem paga, extrato bancário. O importante é ser honesto.


"E se minha situação financeira melhorar?"Você tem obrigação de comunicar ao INSS. O benefício é revisado a cada 2 anos.


Além do BPC: conheça outros benefícios sociais relevantes


Muitas famílias não sabem, mas o ingresso na base do Cadastro Único do Governo Federal pode ser a porta de entrada para outros benefícios. Os principais deles são:


· Bolsa-família.

· Vale-gás.

· Isenção de IR na aposentadoria.

· Tarifa social de energia elétrica.

· Prioridade em programas habitacionais.


Isso significa que quem eventualmente não seja elegível para o BPC-LOAS poderá ter acesso a outros benefícios.


Conclusão: você não está sozinha


O caminho pela garantia de direitos pode ser burocrático, cansativo e às vezes desanimador. Mas cada documento reunido, cada ligação feita, cada ida ao INSS é um passo em direção a uma vida mais digna para você e sua família.


Não desista. Sua luta é válida. Sua família merece. Você merece.


Precisa de Ajuda?

· Procure o CRAS mais próximo.

· Busque grupos de apoio de mães e pais.

· Consulte a Defensoria Pública.

· Acompanhe os canais do PCD Hub para mais informações.

 
 
 

1 comentário


Gostaria parabenizar e agradecer pelos conteúdos. Estão muito didáticos. Fundamental para toda Comunidade o acesso a informação.


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